A cidade volta a tomar conta do meu corpo queimado por 9 dias do sol que me alegrou a infância.
Sou nostalgia, saudades de mainha e uma certa solidão derivada da falta dos amigos que encontrei.
Os ‘caras” são foda. Gente sem “arrudeios“. Que entendem suas histórias. Que acham graça em tudo. Que sabem levar as coisas na malícia que só a baianidade é capaz de verter.
O mar ainda me salga os olhos. Pode ser confundido com lágrimas, eu sei, mas garanto a procedência “Ipitanguesca“.
Essa foi a ida mais significativa até então. Porque todos os meus fantasmas exorcizados em terapia se materializaram. Nada ruim. Coisas de família. Eventos mais que positivos e reveladores.
Uma passagem aérea promocional barata pode refrigerar a alma daqueles que muito devem. Uma oportunidade do último beijo em Tia Francinete, antes que ela se vá.
Seus olhos me pareceram cinzas, distantes. Como se estivesse divagando em lugares diversos do universo, do passado e do futuro. Eu não conseguia não me emocionar.
Mas ela me reconheceu. Puxou meu braço, me beijou a barba, disse que me amava. Deus me livre. Que cena encantadora! E tome sal nos olhos.
O legal é que, do alto dos meus 41 anos, finalmente consegui entender o que sou. Entendi minha vida, meus defeitos, minhas manias. Eu sei qual é a minha linguagem. Eu sou Bahia. Eu sou baiano. E me sinto livre.
SP é recheada de eventos culturais. Eu sou feliz aqui. Mas não tem alma. Pode falar o que quiser: São Paulo não tem alma. Infelizmente. Ela é insípida nesse sentido. Qualquer outro lugar tem sua identidade. Mas SP, não.
E essa é a dureza do lugar. Essa é a tristeza, a agonia.
São Paulo é um shopping. Um post pago no Facebook. Um playground de condomínio. Não é orgânico. Não é livre. Não anda de sandálias. Não suja os pés. Tem uma espécie de “educação e bons modos mal educado”.
Sei que não vou sair daqui nem tão cedo. Há muitos pecados (e dívidas) para pagar. Não há possibilidades de volta. Não por agora. Continuarei usufruindo do seu hálito refrescante falso. Continuarei vivendo sob seu céu sem estrelas. Convivendo com seus filhos que acham que sabem ser humanos e autênticos.
Me guiarei por essas luzes da cidade. Talvez a única luz que (aqui) me conduz. Acertando, errando, sendo julgado, morrendo e ressuscitando. Todos os dias. Todo maldito dia sem santos dessa cidade.
Como dizem por aí, “todas as coisas são nossos mestres se soubermos ouvi-las”.
Espero que você me ouça. Espero que você me entenda.