Não sei se a posição de dormir na cama influencia alguma coisa. Há dias que acordo descansado. Talvez respirar profundamente, sem irrigar os pensamentos com um alvoroço de temas que não se consegue resolver no momento, ajude a descansar melhor.
Acho que o segredo para manter o ritmo sejam as pausas. Aquelas técnicas Pomodoro de gestão de atividades (trabalhe focado 25 minutos, descanse 5) ajuda a se desprender da cadeira, espreguiçar.
Na noite anterior não foi bem assim. Um chá verde fora da hora e uma quantidade extra da janta me fizeram dar umas boas reviradas na cama. Estou um pouco cansado dessa rotina de problemas para dormir. A compra do CPAP amansou minhas apneias, mas ainda não inventaram um aparelho que acalme tensões mentais de imediato.
Desligo os eletrônicos, borrifo alfazema na cama, luzes de LEDs âmbar. Todo o ritual para o sono vir com tudo. O meu quarto é uma espécie de apartamento de baixo orçamento-terceiro-mundo do Rick Deckard, de Blade Runner.

Por falar em lâmpadas LEDs, me orgulho das minhas. Você tem que ser muito pobre para ter orgulho de lâmpadas, mas enfim, as minhas são sexy e bonitas. Comprei sem querer, em uma loja dessas gigantes onde se vende de tudo. Nem conhecia a marca.
Você liga o interruptor e parece que elas não funcionam. Não acendem de pronto. Vão gradualmente irradiando sua luz amarela, como um nascer do sol. Parece um bocejo leve que explode num urro. Nunca fiquei apaixonado por lâmpadas.

Ler meus velhos livrinhos ensebados debaixo de sua radiação é um esplendor. Tipo este, do Charles Bukowski. Tudo o que você vê neste blog é baseado nesse livro. Em minha última viagem “para casa”, a casa da minha mãe, resgatei-o. Está velho, meio mofado, mas continua companheiro e me dizendo o que quero ouvir.


É um dos últimos escritos de Bukowski e o meu preferido. Uma espécie de blog antes dos blogs. curto, ríspido e amoroso. Não me pergunte como posso fazer associações do tipo e adjetivar assim. Assim sinto, é o que a sua escrita me passa.
A inspiração para marcar o presente e transformar o cotidiano em algo mais significativo. Elevar o dia a dia à uma atmosfera de arte.
A vida pode ser arte. A cidade é uma grande exposição permanente em movimento. Pessoas em suas vidas, indo e vindo, são performances.

Esse espiral-caracol, por exemplo. Mais um achado glorioso na Mateus Grou.
Alguém fez este stencil singelo. Alguém, em algum momento do dia ou da noite, fez a intervenção. O que ele poderia significar? O que o artista quer passar com essa interferência visual urbana? Tão genial, tão só, fora de ângulo.
Quem de longe me vê pensa que sou alguma espécie de esquizofrênico que para e olha para uma parede. Em nossos tempos, você é estranho se ficar admirando qualquer coisa simples pelo prazer de apreciar o momento.
A vida passa leve, apesar dos revesses. E estes não são poucos. Tudo bem. Eu sou feliz. Eu não estou louco.