No já longínquo ano de 2001, batizei o meu primeiro blog de “Deniac e a sua vida low-tech”. Flertava com o termo por não ter o dinheiro suficiente para estar em voga com a tecnologia, já que não consumia o que de melhor estava sendo produzido debaixo da grande sombra do high-tech.
Ter uma vida low-tech é se despreocupar com as ânsias das novidades, sem ceder a qualquer pressão da moda, das tendências, sendo um observador atento, evitando cair na dança hipnótica que está inserida todo o resto da humanidade.
Mas isso não significa que você deva ser um hippie com ojerizas da sociedade. Ao contrário, com uma atitude low-tech você continua na crista da onda, só que por meios mais baratos, mais conscientes, mais recicláveis.
Você é low-tech quando pensa duas vezes antes de comprar qualquer coisa nova; Você é low-tech quando passa três ou quatro anos com o mesmo celular; Você é low-tech quando reutiliza algo; Você é low-tech quando aprende a reparar desde roupas até aparelhos eletrônicos. E apesar do antagonismo, você constrói o futuro quando é low-tech.

No Brasil, o termo pode ser substituído por “gambiarra”, ou o seu estado mais lúdico, a “gambiarrologia”, vertente com representação artística séria, e que defende um consumo consciente de tudo.
No site oficial dessa elite tecno-pensante, há uma definição que resume bem o conceito e que, de tanto reler, já tenho como mantra:
“Em época em que somos compelidos pela sedução incessante do consumo a estar sempre atualizados tecnologicamente, a gastar o dinheiro com o último lançamento de aparelhos que já temos, a estar up-to-date com as novas linguagens, em suma, no afã de possuirmos símbolos e canais de exibição de certa afetação de contemporaneidade, o sequestro semântico dos gambiólogos é marca de posição e reforça a práxis política de enfrentamento ao massacre da abundância de tecnologias fugazes. Os artistas que desenvolvem projetos em gambiarras procuram questionar a produção massificada de novos dispositivos e tecnologias que já não possuem obsolescência apenas programada, mas também desejada.”
Como eu disse lá em cima, flertar com o conceito foi uma atitude de vida muito mais intuitiva do que sábia, já que não me atentei ao cerne da questão, do que é ter de fato uma atitude “low’.
O lance de estar à margem das tranqueiras computacionais e sobreviver muito bem com isso, era muito mais uma atitude rebelde do que filosófica. Mas nada como o tempo, que te dá bons tufos de cabelos grisalhos e uma sabedoria profunda, adquirida empiricamente com as quedas da vida.
Um dia, deu me na mente a ideia de criar um movimento revolucionário. Seria uma lista de atitudes “faça você mesmo” para não cair nas tentações do inferno do consumismo capitalista. Mas antes de começar minha pequena empreitada, fiz uma busca rápida pelo termo “manifesto low-tech” e… Caralhos me mordam, já haviam criado tudo! A página que encontrei, apesar de simples HTML – apenas com caracteres – tinha um poder de conteúdo impressionante.
Não fiquei decepcionado por não ter sido o primeiro a desenvolver o conceito, mas confesso que, o que havia ali de “regras para quebrar o sistema”, era bem mais sofisticado e profundo do que tinha imaginado. O texto é um discurso de James Wallbank, coordenador da Redundant Technology Initiative, proferida em uma conferência para artistas e ativistas de mídia chamada The Next 5 Minutes, datado de março de 1999, realizada em Amsterdã.
Traduzi as palavras dele livremente (já que toda a informação é livre e eu posso/devo resignificá-la, sem deixar de dar os devidos créditos pelo sampler, claro), mas se quiser ler o original, pode acessar aqui: http://lowtech.org/projects/n5m3/
A coisa toda é mais ou menos assim:
Manifesto Lowtech
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“Lowtech” significa tecnologia que é barata ou gratuita. A tecnologia se move tão rápido que agora podemos recuperar processares a partir do lixo.
Ser “Low-tech” é também atualizar o seu hardware anualmente, mas você não tem que pagar por isso. Low-tech inclui hardware e software.
Defendemos softwares livres e de baixo custo. Defendemos sistemas operacionais de código aberto e de baixo custo.
A alta tecnologia não significa alta criatividade. Na verdade, às vezes, as restrições trazem as soluções mais criativas.
A independência é importante. Não bloquei sua criatividade em uma caixa que você não controla.
O acesso é importante. Não bloquei sua criatividade em um formato em que não podemos ver.
Obras artísticas de alta tecnologia comercializam novos PCs. Mesmo as que não se destinam a isso. Comunicadores preocupados com o significado e contexto do que eles fazem, podem evitar isso e alertar as pessoas.
Estamos céticos sobre o frenesi consumista associado com tecnologia da informação. A atitude low-tech questiona o ciclo de atualização a cada dois anos.
Um monte de gente diz que as novas mídias são revolucionárias. Eles dizem que a web é anárquica e subversiva. Mas quanto de subversivo você pode ser em um clube exclusivo, e que cobra uma taxa de entrada 1000 dólares?
Low-tech é uma tecnologia do nível da rua.
O texto é ótimo para se comunicar. Anote o que você quer dizer. Deixe claro e simples e não exclua ninguém.
O e-mail ainda é o “killer app”. Rápido, de baixo custo de comunicação, global para o cidadão comum. É realmente algo novo ainda.
HTML é muito mais do que as páginas da web. Você também pode criar todos os tipos de materiais gráficos apenas com um editor de texto. Use a web para texto e imagens simples.
Tudo o que é simples é barato, é rápido e funciona.
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