Acordo no escuro desta casa/quarto/unidade. Fico isolado do mundo. Um casulo de concreto à prova de som e notícias ruins. O CPAP acusa que dormi menos de 2 horas de sono profundo. É pouco para minha idade e condição de corpo.
A sonolência é certa durante o dia. Mas tudo bem, hoje é sábado, dia de cortar o cabelo, flanar.

Café do bom, cuscuz e ovos. Como na varandinha, vendo a cidade formigar.
Fico pensando em dinheiro, está indo rápido. Antes, talvez não sentisse o peso, já que dividia uma casa e contas. Agora, percebo como tudo ficou realmente difícil. Felizmente, São Paulo é ainda um bom lugar para andar sem grana.


Esta é a casa e o local de trabalho do Paschoal, o barbeiro. Na poltrona, Leona. Ele é um cara que leva o lance do analógico à sério. Tem a ver com o tátil, com o que se cheira, o que se ouve. É além da superficialidade hipster. Uma história, uma novidade. Vida real.
Vou lá também porque sempre me apresenta um disco interessante. É o tempo do corte: Lado A e Lado B de algum álbum desconhecido. Além dos livros. Tem um em cima dessa mesinha : A vingança dos analógicos: Por que os objetos de verdade ainda são importantes.
Escrever em cadernos de papel, escutar discos de vinil, sair na rua. Queimar a borracha da sola do tênis andando sem rumo. Menos telas. Essas coisas.



De Pinheiros para a Japan House, na Paulista, é uma boa caminhada. Fui andando. A ideia era ver as traquinagens eletromecânicas da artista visual Yuko Mohri: “Parade – um pingo pingando, uma conta, um conto’”. Na instalação, a transitoriedade e impermanência, esculturas cinéticas e sonoras.
Ela exalta uma filosofia japonesa que ressignifica objetos e utensílios, ressaltando o belo no ordinário. O termo é um conceito do filósofo japonês Soetsu Yanagi (1889-1961): “you no bi”, a “beleza dos objetos cotidianos”.
Enfim. Como diria João do Rio, “a rua une, nivela e agremia o amor”. Sejamos mais analógicos.
Aqui, que é minha casa, meto as caras. Literalmente. Essa é minha real rede social. Não é de agora mas é de hoje.
