Acordei embalado pelo ruído branco de uma chuva que veio abrandar um calor de uma semana. Sensação de torpor que não consigo descrever. Algo como uma frequência vibracional que toma todo o corpo.
Essa foi aquela semana que o país se preparou para um frio “cabuloso”. E ele veio. E doeu nos ossos das pessoas. Depois, o calor. Em pleno inverno, escrevo sem camisa no meu quarto. Não é um calor de suar, mas o suficiente. Sei que não vai me impedir de dormir.
Já era para estar em outra dimensão do sono. As primeiras semanas de setembro estão vindo com tudo e há muitos itens que precisam ser resolvidos. Mas o típico silêncio de Mirandópolis numa noite de domingo me toma a alma e me força a vir escrever algo.
O silêncio é trilha de escrita. É doce para alma. É o momento em que vozes internas tomam vida. O coração não é só pulso, mas também palavras que os ouvidos precisam escutar. Silêncio é como café bom: quem toma, vicia.
É notório que gosto desse lugar, mas, mais uma vez, pessoas estranhas cruzam a minha vida e me forçam a tomar decisões. Sei que devo vê-las como mestres ou sinais de que mudanças são necessárias, mas não queria mesmo ter que sair deste daqui.
Os sinais precisam ser lidos. A casa me expulsa. Ela insiste que eu mude. E grandes eventos parecem estar por vir. Sonhei que estava entre ondas nebulosas, apesar do bom tempo. Morro de medo do mar, mas a experiência foi real. Entre pequenos morros que se moviam. Espumas brancas cintilantes, sol a pino, eu em alto mar. Aterrador e bonito. Um espanto sendo degustado como se fosse morrer em seguida.
Sobrevivi. E fui parar na areia. E a areia era Ipitanga.
As tormentas são certas. Os reveses estão prontos para caírem em mim como cães raivosos. Mas, depois de tudo, a gente sempre vai para Ipitanga. E isso me traz paz.
Que Deus me conceda o silêncio todos os dias da minha vida, Amém!