Esses domingos infelizes (não por ser ruim, mas por ser bom), que passam rápido e deixam saudades. E eu aqui no final de tudo pensando se é melhor fazer vídeos ou me entregar somente a escrita. Na verdade, eu já sei a resposta, mas acho que ela vale um post bem estruturado.
Apesar de querer, minha inabilidade com o vídeo, de falar, de editar, é horrorosa. Tudo é demorado, irritante, toma espaço em disco e no tempo de vida. Uma eternidade para escrever, filmar, editar e subir a produção. Minha vida não comporta mais essa perda.
É como me expor ao ridículo, só insisto porque quero dominar outras mídias. É questão de honra. Mas deixo claro que sou um asno tentando falar o meu próprio texto. O roteiro sobre a escritora Sylvia Plath, Jesus Cristo, é de dar dó. É como fazer anotações com a mão esquerda enquanto se aprende russo ou islandês.
Mas, diz a ciência que isso é bom, não é? Criar novas conexões cerebrais, exercitar o pensamento, ficar mais esperto, mesmo que para isso tenha que se “vexaminar” diante de uma câmera e para desconhecidos que serão testemunha da minha dicção digna de pena.
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Desde que meu cérebro iniciou o seu processo de fazer associações cognitivas… Digo, desde que eu me recordo quando ele começou a ligar os pontos, surgiu uma queda por todas as novas tecnologias. Quase um fetiche, quase uma obsessão.
Talvez, a inauguração desse interesse se deu quando vi uma certa novela ainda muito criança, lá pelos anos 80, em que um personagem (José Wilker), muito conectado às novidades tecnológicas, tinha em sua casa portas de vidro automáticas que se abriam sozinhas e um robôzinho simpático como ajudante.
Por meio de Cosmos, fui apresentado ao que definiria como o som do futuro: os acordes sintéticos e minimalistas de Alpha, de Vangelis, personificação sonora das grandes descobertas e de tudo o que está além do nosso conhecimento.
As imagens hipnotizantes do universo, as explicações claras e inspiradoras. Tudo se combinou para despertar em mim um desejo insaciável de explorar, de aprender, de ir além.
As novas tecnologias, para mim, nunca foram uma ameaça, mas sim pontes para o progresso, ferramentas para ampliar a visão, expandir horizontes. Itens que estão lado a lado com a magia.
Cada avanço é como um degrau em uma escada infinita que me leva a novos patamares de conhecimento, de autodescoberta e de conexão com o mundo ao nosso redor.
Mas, no meio de toda essa empolgação tecnológica, uma verdade fundamental permanece inalterada: a leitura. Essa tecnologia ancestral que nos permite viajar no tempo, explorar mundos imaginários, conversar com as mentes mais brilhantes da história e desvendar os segredos do universo (acho que eu já disse que estou adorando entrar no corpo de Sylvia Plath todas as noites, não é?).
Mesmo em um futuro distante, quando uploads de memórias e realidades virtuais forem realidade, a leitura continuará a ser a mais poderosa, a mais robusta, a mais disruptiva das tecnologias.
Porque ela é mais do que apenas absorver informações, é um processo ativo de reflexão, de análise crítica, de construção de conhecimento.
Por isso eu sempre leio. Desafio seu cérebro. Ele é um órgão que anseia por estímulo, quer que eu o leve além de seus limites.
O mais importante é o quanto ela nos conecta, o quanto consegue fazer a gente sentir o que o outro sentiu no momento em que escreveu algum texto. É a suspensão do espaço, do tempo, te colocando no lugar, a oportunidade de sentir quem escreve.
Leitura é tecnologia definitiva.
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Para onde eu vou, ele vai. Parece um gato que não gosta de ficar sozinho na sala. Vem brincar aos meus pés enquanto leio. Senta ali, faz das minhas pernas encosto e brinca.
Agora a pouco estava fazendo estripulias na banheira, balbuciando uma música que eu não conhecia. Consegui pegar um “pedacinho de você..”. Depois fiz uma pesquisa e descobri a letra. Deve ter aprendido na escola, porque essa, eu não mostrei.
Escutando a vozinha rouca de moleque, entoando palavras embaraçadas de uma canção cuja doçura ele não concebe, enquanto as perninhas se movem sob as águas. Ele desenha redemoinhos de beleza, libertando centenas de bolhas de encanto.
Alheio ao tempo, alheio a vida difícil do mundo, do imenso e terno amor que permeia o banheiro por fugazes e ternos instantes que jamais iremos esquecer.
Alheio, mas transbordando água de banho. Alheio, mas salpicando no piso branco todo o seu amor e felicidade.
“Eu sou quem sou, por causa de você!
E é tanto amor, que nunca vai caber
Aqui nessa canção, por isso eu canto então!”