O Daruma quebrou. Mil pedaços minúsculos de um desejo ainda não realizado. Mil caquinhos de um sonho sobre conforto e uma vida mais calma.
Quais infortúnios isso poderá trazer? O que me falta acontecer? Queimo, jogo em água corrente ou enterro em algum jardim?
Só resta a constatação de como é difícil a mágica nos centros urbanos!
Recolho os restos, ponho no saco de recicláveis e vou colocar na grande lixeira, perto do elevador. Bafo sob a máscara (resquícios de uma pandemia que nos oprime contra nós mesmos).
Fiquei apreensivo com o momento. A mente corre logo para a tragédia. Mas calma, nada demais.

Quando tive minha primeira Japamala, me informaram que ela poderia quebrar, seja pela ação do tempo ou de alguma energia maior que o objeto segurou.
No ano de 2017, quando estava no Vale do Capão, na beiradinha de uma cachoeira gigantesca, a pequena conta do Meru se desprendeu e rachou em dois pedaços.
Mesmo em um lugar supostamente livre das agruras que nos cercam, algo de ruim pode ser evitado. E foi o que interpretei.

O importante aqui é a simbologia da ocasião. Aconteceu por algum motivo. Do frívolo ao mais dantesco. Sei que coisas quebradas não devem ser guardadas. E se quiser guardar, que resinifique, assim como a técnica japonesa de restauração de cerâmicas quebradas, o Kintsugi.
O Daruma fez o que pode. Segurou o objetivo até quando deu. Se quebrou, foi para avisar que os propósitos precisam ser revistos, repensados e não esquecidos (quebrei ele por estar atrás de mim num batente onde trabalho, já que encostei, quando deveria estar na minha frente todo o tempo).
O inconsciente aceita os atos simbólicos como se fossem acontecimentos reais. Todo ato mágico-simbólico-sagrado modifica o comportamento do inconsciente. (Obrigado, Jodorowsky).
Ciência e magia são nomes diferentes para a mesma faceta humana. Qual?
O escritor C.S. Lewis responde:
Tanto para a bruxaria quanto para a ciência aplicada, o problema é como subjugar a realidade aos desejos dos homens, e a solução encontrada foi uma técnica; e ambas, ao praticarem essa técnica, se põem a fazer coisas até então consideradas repulsivas e impiedosas – tais como desenterrar e retalhar cadáveres.
C.S. Lewis: A abolição do homem – 2a. edição. Editora WMF Martins Fontes: São Paulo, 2012: pp.72-73.

Adoro seus textos!
Olha. Quanto tempo! Tá de blog novo! Vou seguir. Muito obrigado, Deise!
Simm! Criei há pouco tempo ☺️
Senti falta de escrever
estava precisando desse texto, obrigada
Que bom, Maki.